domingo, 19 de abril de 2009

Roberto Carlos, 68 anos


Parece-me uma extensão da ideia que tenho do amor. Uma coisa para ser dita cafona e é o luxuoso encontro que qualquer um de nós buscamos. Tem a palavra precisa , sedutora, simples e comunicativa; o que fala para dentro e a todos; tem a outra coisa da roupa azul e branca, em sinal de paz e amor...Tem melodias transbordantes, a cerveja, o vinho, sei lá, fazendo a cabeça rodar dentro da delicadeza que entragamos a quem amamos - tem essa paisagem sonora que é a voz mais tocada mais ouvida mais sentida mais vendida mais comum mais masculina mais precisa mais amável mais irreal e a mais real de todas que temos aqui. Voz de rei. Onipresente.
Toda vez que chove em minha vida, é um tipo de tarde de domingo, às vezes, também, choroso... A memória ruminando lugares pessoas cores flores fantasias toques...E aquelas canções do Roberto que eu estampo na camisa.
Parece-me algo indissociável da noção antropológica de identidade cultural de uma nação. Do Brasil. Algo que nos agrupa em amar ou odiar a obra de um cantor que é a nossa alma. Um cantor que tem 50 anos de carreira. Gravado pelos que seriam símbolos da nossa "alta cultura" popular. Existe isso? Caetano Veloso diria: ''burrice". Algo dizível na fita que guarda o desespero do meu amor a alguém, e só Roberto, em sua voz e música, poderia me representar dimensionando o meu desejo em tocar inteiro um corpo. Sem perder a ternura que abastece os amores mais profundos.
Parece-me a visita constante de um grande amigo me falando das coisas mais lindas que movimentam os humanos. E eu ouvindo Detalhes, Jovens tardes de domingo, Seu corpo, Rotina, Além do horizonte, As canções que você fez pra mim, Fé, Nossa Senhora, Lady Laura, Olha; mais que tudo, preso à dilacerante audição da obra prima dos Carlos: As curvas da estrada de Santos. Quantas lágrimas eu tenho derramado. Uma discografia para cartas e cartas de declaração ao amor eterno. Uma discografia de música perfumada e tátil. Impregnada à mémoria; aquática refletindo olhos castanhos; música cantarolada pelo gerente do banco, pela doce diarista, pelo frentista, pelo professor de história, pelo dentista,pelo petista, pelo cara do DEM, pelo outro cantor, pelo eu desafinado e pelas leituras sobre-humanas das maiores Maria Bethânia e Gal Costa.
Parece-me que doer é fato da criação. E eu noticio os 68 anos de Roberto Carlos , maior na gente que seus cem milhões de discos vendidos. Noticio agradecido por sua presença combustível que me deu movimento nas minhas histórias de amor. A mais importante selou uma fita todinha com músicas dele - e eu a enviei no intervalo doído do tempo de uma postação que me deixou sem resposta... Meus olhos presos no retrovisor mas o tempo não para.
Vida longa ao rei ! Em suas novas comemorações volta a cantar com nossas musas e eu nem quero imaginar ele cantando com Maria Bethânia. Eu quero "audio-assistir". De perto.

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