quarta-feira, 1 de julho de 2009

Do mistério

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Por que eu me permito? De onde vem o vaticínio desta entrega?O que me prende ,à revelia de mim, ao sabor do nada que fora de mim se basta em fascínio e sedução? O que me desfaz para me completar por inteiro? Faz-me secar de desejo para depois operar o milagre da inspiração? Será o amor uma horda?Será o amor um intento do constante vazio?Qual a limítrofe entre afeto e fixação? Devo caminhar em silêncio?O que devo ler nos olhares que recebo?Por onde se ergue a desistência?Qual a palavra ainda não dita? Palavras não falam.
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Eu não escrevo para ninguém. Há movimento interno demais e despejo algumas coisas ininteligíveis para dentro da trituração alheia. Sem direção nem alvo. Sou-me seta atônita louca crônica indo a nadificação. Pouco me valhem, aqui, sociologias...Filosofia é o peito pedinte e me sobram palavras que não atingem. Por que tenho que atingir? Meu segredo invalida as conhecidas formas de comunicação. O que busco ainda não foi inventado. Minha palavra inexistente vê. Desejo. Outro tempo para além do corpo e próximo da alma. Estou depois aqui no presente sem possibilidade. Quero uma outra cultura que me sirva em satisfação. Quero ir irrigado em mistério para dentro do sonho real.
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Por que sempre falta tempo? E coragem? E sorte? Permissão. O mundo é um moinho. Tudo caminha para o dessentido. A órbita dos estabelecidos, dinâmica do Poder, é que dá sentidos à vulgaridade que fundamenta o humano. A ordem é medíocre: nem menos nem mais. Meio, sem chances de aclive. Basta. Não subverta. Caminhe na posse da reiterada caminhada. Pouco movimento. Signifique o que você deve ser. Na ordem.
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Meu coração é subversivo e cheio de razão. Aliás, cheio de ditames emocionais. O que sou, sou porque sinto! E vivo a me perder nas imagens de uma escrita próxima, lânguida, mágica, mas: covarde. A razão que não é minha me diz que o "tempo passou", "se desgastou", "avante", "esqueça e siga". Não esqueço e escrevo numa linha daninha contra o "meu". Ser sendo no que posso querer de uma alma poética. Vivo numa circular espera. Repito repito repito repito repito repito repito feito água numa pedra.
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Meu coração é puro mistério. É amor.

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