segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mahler e aquela sinfonia

Gustav Mahler(7/07/1860# 18/05/1911)
Era tudo vazio. Movido a som que trazia tristeza. Um conto no formato película para também prender os olhos. Olhar fugidio de um sob a observação idólatra do outro. E aquela sinfonia ambientando Veneza na memória: presença de mar, gôndolas, versos soltos, orquestração de violino, cinza brilhante, olhos castanhos, lágrimas mínimas, fastio, sentidos, obrigatoriedade... O tempo faltara e exterminara o sentimento amor tido como atemporal. O tempo gastou-os de espera e de fato, nada houve a não ser de um lado. Idolatria misturada à sinfonia do maior dos eruditos. A vontade de viajar e de lá, promover o êxito artístico da junção entre Mahler, Mann e Visconti. A vontade, é claro, destes juntos mas enviesados a um final feliz.
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A vida passa. Para além do que se imagina e extermina. Sonhos e desejos. Corrobora o desespero de se morrer sem o alcance do maior sentido. A vida passa inscrita no lamento de uma sonorização avisando-nos: vocês estão de passagem mas eu, música atemporal, não. Entre adagietos e allegrettos tudo escorrendo para a morte. Notas descrevendo o peso da saudade do inconsumado. Desvarios e prelúdios do quase sepultamento. Despedida sem se ter como. Escrita no bico do pombo. Imensidão.
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O corpo como humana ruína. Tanto tempo atrás e a imagem intacta no espelho da memória. Mahler tocando numa eletrola sem data, a novela de Mann largada ao chão, o vento trazendo com força tudo em identificação com o filme de Visconti. E agora, na boca, uma bala com gosto de frustração. E muito sangue.
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A vida, às vezes, é assim: desilução. E pequenas mortes nos acontecem todo dia. Da éterea sensação de eternidade só a arte não é passageira. Até o sentido maior do que foi produzido pelo humano se esvai fedendo quando não há encontro. Mas a memória dói e corrói para nos mostrar fracos. Iludidos e pesados. Leves só na ânsia, e por ter cometido loucuras tentando firmar-se no sentimento sofismado. De um lado. Do outro, a entrega dilacerada íntima da Sinfonia de número cinco de Gustav Mahler; entrega que se cala no afã do alívio descrito no suícidio do amor que não passava.
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Som da tristeza indescritível e da beleza mais sobre-humana. Como o amor que se morreu.

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