Você nos deixa?
sexta-feira, 29 de abril de 2011
pedra e mar: eu

"É só de mim que ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu"
Mário de Sá-Carneiro
E trovejo ao meio disso - Grito!
Até nos encontrar!!!
( a pedra do mar que me abriga)
terça-feira, 26 de abril de 2011
Ser
Eu seria outra Pessoa.
Incongruências

segunda-feira, 25 de abril de 2011
tomo conta

tomo conta simplesmente por tomar e me banhar naquela força em dizer que a beleza existe. E o amor também.
tomo conta para pintá-la de palavras, sua essência mais profunda, e em dias sem graça como esse, ouvir Tua e me reelaborar na esperança que, ela sereias areias mares silêncio , me pulsiona a viajar nos mistérios de mim.
O amor
Mas ele. Mora lá. Eu o vejo caminhando no sentido da construção que postula aquele lugar. Mora em todas as travessas, ruas, avenidas, casas, relentos, calçadas, marquises... Mora também, o seu tormento. Mas, onde mora melhor é em mim...
Minha luz vive acesa para tentar a mais vil das seduções. Mas qualquer encontro é puro carinho. Vai até a deixa dos melhores poetas e nós, juntos, dançamos esse exercício sem clareza: uma quase arte refletindo seus olhos que calam nossas bocas. Girando girando girando. Pairando pairando pairando. Entre nós, a confusa necessidade de muita gente. Girando girando girando. A redondeza também traz amigos. Nos vestimos de preto para a moderna forma de ser. Não tenho casa. E minha luz vem do sol. Meu mundo é de mar. Meu tempo é desespero. Anda recortando e relembrando todas as redondezas onde estive. Sangro como o mais dramático; me salvo como o mais pragmático; respiro nesssa tentiva de tê-lo através da escrita. Poesia? Nele a certeira poesia e eu sou menor.
O que contarei para alimentá-lo no quadrante de mim? Para viabilizá-lo entre as florestas do meu sonho. Isso que tenho de maior desejo. Não sou daí mas o busco aí e meu semblante amadurece sem companhia.
Naquela rua da concreta poesia que desafia a imaginação, subverte a proteção, esvai composições de vida; tudo numa pergunta indevida: em que redondeza eu ei de encontrá-lo? Girando girando girando. Motores na falta de silêncio, asas em sua configuração... Nascentes da infância. Mora, também, felicidade ali. Muito conflito. Pairando pairando pairando. Ele morando em mim. Meus erros de português e meu charme raro vernacular. Buscando cama e sentido num espaço que dentro em breve, para mim, não mais existirá.
O impossível carinho


Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
Manuel Bandeira
P.S. - mais um poema para eternizar a poesia em minha vida. Mais uma vez: Claudio Leal. Leiam, eu sou daquele jeito naquela ânsia.
Ao alcance e tão distante

terça-feira, 19 de abril de 2011
Baby Consuelo
Cresci vendo e ouvindo Baby Consuelo; pousando meu olhar admirado em cima dela como figura exótica e mais ainda, como grande cantora. Sim, porque para mim, ela sempre foi e será uma grande cantora. Todo dia era dia índio, Telúrica, Emília Emília, Menino do Rio... Tantas outras canções que eu acompanhava das rádios. Vendo, era na Praça Castro Alves e ela única, absoluta, a voz feminina do Carnaval que, naquela época, era o melhor do mundo.
Baby traduz muitos sonhos pra mim. A voz dela me acorda o amor que sinto por ela e Caetano Veloso, que juntamente com a eterna Gal, eram os mais adorados por mim. Além de Clara Nunes, é claro! E eu só tinha 10 anos. E sonhei muito além, demais, para a composição da minha existência; sonhei muito para o tamanho do meu talento, para o que eu poderia realizar e conquistar por mérito. Foi assim. Dizem que Baby anda louca, mas ela não sai de mim; ajudou Caetano a me educar artisticamente. Vivo de saudade dela e fico triste com sua ausência do lugar que eu acho que ela mereceria ocupar.
Baby sinaliza a minha fidelidade, o meu amor por algumas figuras tão distantes mas que habitam minha alma.
Este texto é para registrar amor. Olhando a cara de Caetano Veloso e ouvindo a exagerada, em partes equivocada, canção Todo dia era dia de índio, na voz doce sensorial materna nativa de nossa Baby Consuelo, que nunca deixou de ser do Brasil.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Onde está você, Iemanjá?


Enquanto os adultos organizam a festa do Reveillon e as oferendas, Camila sai em um barco, em busca de Iemanjá. Para criar um clima ainda mais onírico, o livrinho é ilustrado pelo artista plástico francês Philippe Davaine, que viveu em uma ilha parecida com de Camila e conheceu diversas tradições de culto a Iemanjá no litoral brasileiro. Essa obra encantou o escritor baiano Jorge Amado. Sobre o livro, ele disse: “É a magia do Brasil que encontramos no olhar de uma menina na véspera do Ano-Novo, dia em que todos fazem festa à deusa Iemanjá… Leny Werneck é uma benfeitora: ela oferece às crianças a medida do mundo e a visão da beleza”.
Autora: Leny Werneck
Ilustrações: Philippe Davaine
Grupo Editorial Record/Galerinha Record
32 páginas
Preço sugerido: R$ 37,90
Retirado do A Tarde On Line :
http://literatura.atarde.com.br/?p=418
Sem previsão

Como se a divagar o sentido do étimo quimera e doer na sede do não acontecer. Como se sobreviver na ideia do amor imorredouro irrealizado para sempre. Como se viver sem corpo nos passos de uma palavra sustentada de eternidade e fenecer. De desilusão a cada amanhecer que se chega como epifania trágica: o futuro que não há e nem se quer...
Como se desejar lamber a quimera, excitá-la e alterá-la... Fazê-la florescer amor nas raias quentes da poeta dos anjos e parar o tempo, secar os anos, viver o momento que foi encontro, sonho, necessidade.
Como se tudo estivesse para chegar, o coração tranquilo, o corpo ajustado, a alma grande e a casa arrumada; a cama vasta à espera do que viria. Viria sim. Mas sem previsão.
domingo, 17 de abril de 2011
João Jardim

Ele me consome com sua simplicidade que capta a ininteligibilidade do mundo, faz uma espécie de filosofia pra gente, quase compõe canções. Consome quando olho para ele através dos filmes dele que me dão encanto. Consome do centro da sua imagem aos arredores do humano, na coisa Essa cara, do Caetano, meu poema exposto Antonio Cícero, o conflito das naturezas no mais que tudo: a beleza nascendo dos olhos do cineasta.
Ele é todo ali. Aparentemente tranquilo, numa quase devassa, querendo descobrir ou melhorar o mundo; numa denúncia poética da emoção nos fazendo enxergar sem olhos... Nos fazendo sentir na difusa realização da sua arte. Nele - uma aparente assepsia reinstaura-nos na frugalidade que salvaguarda a poesia no mundo. Simples como falar de amor. Simples como buscar amor. Às vezes, doído como não encontrar amor.
Ele, o cara. Uma das caras mais lindas, por trás das câmeras, do cinema mundial.
O poço
contra a sede e
assanha a vida...
Suas águas refletem
outro estar das almas;
animam o mistério
fazem levantar a saia.
O poço não tem fundo
e não tem procura
e não tem desejo...
Mera superfície
contra imundícies
que o matam.
O poço é sagrado
e indefeso;
molha a genitália
faz abrir a boca...
Às vezes seca a roupa
noutras, pirraça;
O poço é de casa
invadido pela rua;
O poço abre a sala
assiste TV e não crê:
Ele ainda existe?
sábado, 16 de abril de 2011
Cabíria
Aquela cara coroa todas as dores e é a mais linda no desenho delicado dos mestres. Segmento da grandeza de uma atriz - ou será a estúpida beleza da puta em cenas da alma que pede?
Cabíria, eu não vi. Há tempos que não consigo alcançar o peso inexato das melhores narrativas. Perdão, eu não vi. Meus olhos estão presos ao antídoto contra a eterna novidade. Minha alma não se atiça e vaga sem piedade entre os moldes medíocres do bem-estar. Me falta tanto você. Cabíria Masina na beleza estranha da canção e na película que não consigo ver.
Da paixão

Eram dois olhos se comunicando. O resto era volúpia. A boca recepcionando a vida que em outros dias custou demorou acontecer.
E um, abraçando as costas do outro, falava, ao ouvido, letras de canções indecentes para piorar a inexistência de pudor entre os dois... O mundo fervia e produzia cenas que alimentam a ideia do melhor viver: gozo.
Nunca antes escrito ou dito entre humanos.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Maria Bethânia e Pierre Gillet: o belo está no mundo

quarta-feira, 13 de abril de 2011
Água viva

Falta de arbítrio.
Lonjuras decifráveis para um perto que não existe.
O medo a galope à espera da sorte.
Lindos sorrisos.
O encontro em cima da mesa.
A beleza ilumina.
Meu signo combina com o seu.
Então: vamos ao mar.
O célere
- Eu quero chegar. Me liga?!
Foi ótimo pra nós dois.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Mãe

Envolto nas sombras das minhas palavras; mergulhado no sonho etéreo da eternidade; aguçado pela esperança da delícia sangria fome satisfação do reencontro. Mãe. Sem tamanho nem composição bastante. Eu - o que não sabe superar. Escrevo neste abril sempre com medo; este abril que fecha... que venta clandestinamente, acorda os fantasmas na memória das minhas perdas. Abril que a deglutiu e deixou de ser um mês para mim. Não gosto das rosas de abril. Meu perfume, nele, é sempre o mais leve... me torno assexuado, mais medroso, cansado e as pessoas não me notam.
A falta é uma discórdia profunda entre a boca e o estômago e concorda com a lentidão dos anos para quem vive de saudade sem compreendê-la.
A falta combina com a alma e retrata às avessas o sentido que o amor dá.
Mãe é assim: o sentido mais fecundo na possibilidade do amor humano.
Carlos Barros: a Bahia na Bélgica
jornalista e antropólogo ( publicado em A Tarde, Caderno Dois+, em12 de abril de 2011)
Uma voz orquestrada, a favor do exercício musical, pode fazer desenhos que revelam inteira uma cultura, apresentando, explicando, reformulando, interagindo ou, simplesmente, fazendo com que o outro frua e se divirta com a evolução cênica e sonora de um show em movimento. Foi assim. Carlos Barros e a sua impecável Banda do Céu ocuparam elegantes salas em Bruxelas e Liège, na Bélgica, para contar a belgas, e a outras nacionalidades em trânsito naquele país, o que a Bahia tem em poesia e inventividade.
Num total de seis apresentações, sendo cinco em Bruxelas, e uma em Liège, a Música Popular Brasileira entre os dias 17 e 27 de março, singrou a cultura belga dialogando com esta, em inglês, francês, português e iorubá, através do canto afinado doce representacional do baiano Carlos Barros. Remetendo-se aos nossos monstros sagrados, Gilberto Gil ( este foi louvado em todas as apresentações), Dorival Caymmi, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Daniela Mercury e Gal Costa ( sempre homenageada com a canção Trilhos urbanos, de Caetano), somando-se aos ricos e inventivos arranjos da Banda do Céu, os nossos meninos perfilaram a beleza e os acertos que nós baianos temos ( e oferecemos) quando a questão é arte e entretenimento.
Carlos Barros é um jovem cantor, produtor e intelectual que pesquisa a nossa música; lançou há dois anos o belo CD Cantiga Vem do Céu, com um repertório arejado, inédito e reverente ao melhor da música popular. É bem acompanhado pela Banda do Céu, formada pelo baixo de Alex Medrado, da guitarra e violões de Pedro Ivo Araújo, dos teclados de João Carlos Campos e da iluminada bateria de Marcus Lima.
Cantor e banda viajaram a convite da cantora e produtora portuguesa Cristina Rosal ( radicada há 20 anos na Bélgica) através de sua empresa de produções artísticas D’arte, para as apresentações que aqueceram o frio de início de Primavera na Europa, e puseram platéias inteiras para dançar de Aquela do Brasil a Sonho meu, festejando a vida naquele jeito que sempre incrementamos quando chega fevereiro.
De fato, às vezes, só de longe para se ter uma real dimensão da grandeza do que a Bahia e o Brasil produziram, e graças aos orixás, ainda produzem em termos de música. De lá, entre belgas franceses portugueses alemães brasileiros, sentindo frio e saudade do sol, a voz expressiva de Carlos Barros nos colocava no centro profundo do nosso orgulho de ser baiano e de pertencer a esta musicalidade.
As duas apresentações no The Music Village expressaram e confirmaram o talento e a habilidade dos músicos em evidência. A sala é um sítio, como dizem os portugueses, dedicado a receber artistas do jazz mundial e de apresentar aos belgas amantes da boa música, o que de melhor circula pelo mundo. A platéia ficou embevecida com a execução de Trilhos urbanos, O mundo é um moinho, Modinha para Gabriela, London London, Touche pas à mon pote, Jack soul, Língua, entre as consagradas; vibrando também com as inéditas Chumbo, um sambinha delicioso do baiano Harlei Eduardo e Brisa Morena, de Marcus Lima, entre outras.
As outras salas: o Bouche- à- Oreille, o Restaurant Cravo e Canela, em Bruxelas; em Liège, a belíssima La Mi Lune. Em todas, a receptividade foi tradutora do talento dos artistas e do desenho cultural da Bahia e do Brasil feito de música, poesia e dramaticidade. O Cravo e Canela é um restaurante de brasileiras que vivem em Bruxelas; foi lá a última apresentação do show internacional Cantiga Vem do Céu, e a festa foi arrebatadora como só são as festas promovidas pelos brasileiros. A Bahia em especial.
Intimamente, minha cabeça ficou a imaginar meu sonho feliz de cidade: a voz de Caetano Veloso no meu ouvido; o show Solar, de Cláudia Cunha; a imensidão da voz de Stella Maris; a maestria de Tiganá Santana; a lindeza de Juliana Ribeiro... Ah! A poesia da Bahia.
E a possibilidade de ver Maria Bethânia recitando os nomes que dão sentido a minha vida e que podem educar este país. A poesia sendo discutida, agora, por conta do dinheiro quando não há preço; que belo e honesto projeto “O mundo precisa de poesia”.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Bono

Algumas marcas que enobrecem o humano.
O belo como expressão plena.
A beleza acima de qualquer aresta.
A vontade eterna de estar em outros.
Uma espécie de sonho na realidade.
Música transcendental.
Deus existe.
Deus de óculos escuros
Enxergando o mundo.
Deus cantando e dançando.
O homem que cria humanos.
O rock salvando.
A pele trans-racial.
Brado selvagem.
O animal.
O ímpeto entre
Sexo e zelo.
Desejo abrigando.
Rotas do dinheiro.
O outro chamando.
Ouvidos atentos.
Braços e mãos
Tocando
Na carne do mundo...
A fraternidade quase irlandesa.
domingo, 10 de abril de 2011
Muito romântico
sábado, 9 de abril de 2011
Incomunicável

Hoje eu vi flores no jarro da casa de alguém; límpida visão de uma casa limpa tal qual seus donos. Flores amarelas intensificando os trovões em um sábado chuvoso e muita gente gritando. Vi - flores para ter beleza no dissabor - em tudo que me dói tem mãos e delicadeza. Hoje, terminei minha segunda leitura de Dois irmãos, de Milton Hatoum, e saí pensando na grandeza literária de uma tragédia; cotidiano humano, demasiado humano; a obra prima de um escritor manauara, insuportavelmente universal. Tá doendo até agora.
Dias que me tiram de mim, me roubam meu sábado, me levam a caminhos de paz com solidão. Outra manhã senão... Uma tarde de aula e isolamento... Atabaques sem acessar... A palavra de Gore Vidal apontando meu preço... Um vento quente tropical... Nada de telefonemas... Um perfume raro a favor da desesperança.
Hoje é fruto da tradição. Isis brincando no meu quintal a receber oferendas dadas a uma outra. Minha roupa branca manchada, calor no pensamento, vela apagando: o escuro de mim, bem ali, aonde eu mais me procuro.
Falas no que ouço dissabor, o retrovisor desalinha a paisagem: nada ficou pra trás. A palavra alicerça o grande mote. Flores amarelas naquele lugar a espreitar os meus tipos de morte.
Tenho lembranças de passarinhos vivendo em gaiolas. Uma música me acorda para doer ainda mais...
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Chico e Gal: A mulher de cada porto
Doc Bahia Mãe Menininha 2/2
Doc Bahia Mãe Menininha 1/2
Ao deus - despedida
Tu respondes a si: sem dados nem pistas.
Me lancei ao teu para ter-me em bússolas
Mas nos perdemos pelo brado das regras.
E tu me dizes: foi a minha natureza.
Então te digo: nenhuma perda tua se fará mais sentida.
terça-feira, 5 de abril de 2011
Paris

E tenho as fibras tensas
E sou um".
Descrito no mais íntimo desalinho de mim.
Outra expressão da ancestralidade...
E eu era ali.
Um negro em Paris.
Ruas a me assemelhar nelas,
Procura da Primavera que não haverá.
Eu ali no Café do Sartre,
Sem nada falar em francês,
Sendo o mais francês do lugar.
Vulto em navegação,
O que estava no outro
Era extremamente meu.
Aquela cidade foi minha,
Íntima alegria em fuga-cidade,
Íntima esperança de poder voltar.
Uma cidade no que anuncia
Morada, fantasia, realidade;
Deslumbre, estesia, impossibilidade.
Minhas asas sobrevoam ela.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
À espera de si mesmo
Era para ser encantada
a espera de si mesmo...
Doce num vestir azul
caminhando somente
por onde o desejo fosse.
Eram passeios em rodovias etéreas
rasgando pistas
negando nomes
esquecendo gente.
Aquela vontade dormente
num corpo viajante;
sem muitas esperanças
e em muitas atrocidades...
O medo e o desalinho:
o vinho esparramado na única camisa branca;
a mão amassando
a última fotografia.
E no espelho:
nada de mim.
domingo, 3 de abril de 2011
Maria Bethânia: revelações que uma voz traz

Ninguém está acima do bem e do mal em nossas relações sociais; ninguém deve escapar da crítica e do controle sócio-político que defenda os interesses coletivos de um povo, de um país. Todavia, qualquer defensor dos interesses sociais e da receita que sustenta o andamento econômico de uma nação, não pode viabilizar, em nome de uma fiscalização estapafúrdia e daninha, o linchamento midiático, público e privado, de nomes que consagram a nossa cultura e que, do lugar que ocupam, fazem nascer possibilidades de um destino melhor para grande parcela da sofrida população brasileira.
Penso em Maria Bethânia. 46 anos de carreira impecável, se impondo contra os padrões da mídia que a ajudou a se consagrar como um mito contemporâneo brasileiro. Uma mulher que estudou só até a antiga oitava série ginasial, e é considerada por intelectuais, como o baiano Paulo César Souza, tradutor de Nietzsche e Freud no Brasil, como um “gênio brasileiro”. Uma artista voltada a registrar em sua obra a poética popular de nossa inventividade e nos levar para o esquecido interior deste extenso continente, pautando a favor da beleza e da dignificação social: o negro e o índio, o caipira nordestino e os violeiros dos sertões; traz na voz a sonoridade genial de Roberto Mendes e as canções primorosas de Roque Ferreira. Ressignifica, ao adorar a memória de uma iyalorixá, a pluralidade sacerdotal neste país de tantas etnias e matrizes culturais diversas. Uma mulher comum no seu jeito cotidiano de ser e rara quando sobe num palco.Uma militante da palavra feito poesia. Aquela que, desde os 19 anos, mistura a aridez do sertão nordestino às águas salgadas do poeta Fernando Pessoa; a que espalha a genialidade em expressão feminina de Clarice Lispector à de expressão masculina de Guimarães Rosa. A que puxa um ponto de caboclo e sai com Melodia sentimental, de Villa- Lobos, sem adulterar nada nem ninguém. A cantora, no Brasil, que melhor singra os mares de qualquer poeta em língua portuguesa e canta a beleza como razão de ser.
Consagrada e bem paga como deve ser. Menos que Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Xuxa. Maria Bethânia é corpo integrante desta sociedade capitalista, que rima qualidade com valor de mercado, e para sobreviver, do alto da sua exigência artística, altivez existencial e ares de diva, tem que “saber cobrar, lucrar” para continuar no mainstream da Música Popular Brasileira e ter poder de captar recursos para espalhar a tal poesia que todos esquecem todo dia; lembram hoje , porque o belo projeto “ O mundo precisa de poesia”, que reúne outros monstros como Andrucha Waddington e Hermano Vianna, poderá custar 1 milhão e trezentos mil reais.O subtexto mais profundo é o de que poesia é das praças, dos bares, das ruas; que os poetas de verdade morrem como Castro Alves, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Ana Cristina Cesar; ou seja, dão à poesia o lugar da miserabilidade, do tipo: Caio Fernando Abreu, em Londres, lavando prato, e na livraria em frente, seu livro Morangos mofados traduzido em destaque, e ele bem poético, sentindo fome e frio, em nome do tal heroísmo brasileiro.
Ou então, culpam Maria Bethânia por seu poder de barganha acima dos possíveis defeitos da Lei Rouanet; satirizam com projetos de outros blogs menos “caros”; ofendem, cretinamente, a artista como gananciosa e desonesta. Provando que, os fiscais desse Brasil não têm memória histórica e sensibilidade poética para alcançar as sutilezas deste projeto que são bem maiores que a quantia que poderá ser captada.
Sou fã de Maria Bethânia, me impressiono com sua entrega artística, a voz incomum, o trabalho de pesquisa, a beleza rascante anti-padrão, os ensinamentos antropológicos que me chegam a partir dos seus trabalhos e mais que tudo, me desequilibro com suas récitas louvando a língua portuguesa e que me ensinaram muito da poesia que me acompanha todo dia.Maria Bethânia se ergue das grandes epifanias que a literatura lhe faz e as traz na voz para este mundo cada vez menos poético.
sábado, 2 de abril de 2011
Dorian Gray (Oliver Parker)

O retrato de Dorian Gray, o livro, deixou em mim uma única assertiva- sentença: ou se é bom, ou se é artista... Por isso, perco-me sempre da grande poesia que mora em mim e vivo da minha promessa me sendo bom aos outros.
A montanha e a chuva
Daquelas narrativas que outros fazem mas são suas. Vêm, como vêm de dentro, a iluminar, relaxar e não, mas que tudo: a esmagar a vontade resquício de sonhos e desejos no pensamento. Aquela poesia gratuita porque o inteiro da gente que ama. Estou ali.