sábado, 9 de abril de 2011

Incomunicável

No entanto, hoje, nada comunica. A luz está acesa em outro lugar. Muitas perguntas, esperas, sonhos mil, isso de querer dar e não, a poesia que salva e esgota, os filmes, a ideia do amor, uma força pra baixo, mortes desnecessárias, vidas oprimindo, a mentira, a verdade, a saudade, a cidade barulhenta, os projetos secando, fome e sede, falta de mar, o medo, a procura, o silêncio.
Hoje eu vi flores no jarro da casa de alguém; límpida visão de uma casa limpa tal qual seus donos. Flores amarelas intensificando os trovões em um sábado chuvoso e muita gente gritando. Vi - flores para ter beleza no dissabor - em tudo que me dói tem mãos e delicadeza. Hoje, terminei minha segunda leitura de Dois irmãos, de Milton Hatoum, e saí pensando na grandeza literária de uma tragédia; cotidiano humano, demasiado humano; a obra prima de um escritor manauara, insuportavelmente universal. Tá doendo até agora.
Dias que me tiram de mim, me roubam meu sábado, me levam a caminhos de paz com solidão. Outra manhã senão... Uma tarde de aula e isolamento... Atabaques sem acessar... A palavra de Gore Vidal apontando meu preço... Um vento quente tropical... Nada de telefonemas... Um perfume raro a favor da desesperança.
Hoje é fruto da tradição. Isis brincando no meu quintal a receber oferendas dadas a uma outra. Minha roupa branca manchada, calor no pensamento, vela apagando: o escuro de mim, bem ali, aonde eu mais me procuro.
Falas no que ouço dissabor, o retrovisor desalinha a paisagem: nada ficou pra trás. A palavra alicerça o grande mote. Flores amarelas naquele lugar a espreitar os meus tipos de morte.
Tenho lembranças de passarinhos vivendo em gaiolas. Uma música me acorda para doer ainda mais...
Minha vida, querido, não é nenhum mar de rosas; volta não, segue em paz...

Um comentário:

Mi disse...

Lindo, Mar. Obrigada por escrever.