quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Falando banto no Brasil





Não se podem negar todos os avanços gerados pelo governo Lula à afirmação das culturas de origem africana no Brasil. As leis 10.639/2003, primeiramente, e outra mais completa, a 11.645/2008, deram visibilidade e impulsionaram várias discussões na ambiência das questões étnico-raciais, possibilitando várias publicações que narram e demarcam a herança sócio-cultural nos deixada por nossos ancestrais indígenas e africanos de diversas procedências da África.


Sendo assim, se faz mais que necessário compreender os acréscimos que o português falado no Brasil sofreu com a influência lingüística de falares africanos em nosso país, destacadamente, o banto, em suas variantes quicongo e quibundo, que é cotidianamente usado por todos nós. Não se reflete sobre isso, e não se educam nossas crianças contando a história da presença destas expressões em nosso idioma.

Os mais importantes estudiosos do português falado no Brasil, já desenharam em seus estudos influências e acréscimos etimológicos deixados por outros idiomas de matriz latina, anglo-saxônica, árabe, iorubá, banto nessa “língua” que nos congrega. O resultado dessas análises, como sempre, concentra-se nos escaninhos e nas gavetas dos meios acadêmicos e não se alastram a outros níveis escolares e não ajudam a contar a história da nossa formação sociolingüística de modo mais amplo e popular.

Numa investida literária que interage com a proposta de re-contar a história brasileira sob o impacto cultural das várias culturas africanas que nos formaram, a escritora carioca Eneida Gaspar, lançou em finais de 2007, o livro infantil Falando Banto, pela editora Pallas, com belíssimas ilustrações de Victor Tavares, para de modo criativo e especial, evidenciar as palavras oriundas de idiomas como o quicongo, quibundo, ligadas ao tronco lingüístico que chamamos de banto, e que são por nós, corriqueiramente, utilizadas.

Formada em medicina, tendo sido no início de sua vida profissional professora primária, Eneida Gaspar é uma grande curiosa, e atenta estudiosa, sobre questões antropológicas que se inserem no universo mitológico das histórias de origem africanas e indígenas que alimentam a imaginação dos brasileiros. O âmbito das tradições míticas e religiosas a faz navegar com astúcia para criar depois “contos infanto-juvenis”, que preservem a memória de nossa cultura e conte, devidamente, os percursos históricos da nossa múltipla sociedade, vista, muitas vezes, como exclusivamente de tradição branco-européia.

Além da historinha dirigida ao público infantil, mas que também pode ser lida com atenção pelos mais velhos, Falando Banto traz, no final, um glossário, que explica o significado e as possíveis origens de palavras como cafuné, cabaça, babá, bagunça, macumba, banzo, calundu, cutucar, engambelar, fandango, caçula, farofa, faniquito, fuleira, entre tantas outras; fazendo-nos viajar pelos falares desta negrada banto que faz parte da alma sócio-cultural do Brasil.


(Publicado no Opinião do A Tarde em 01/10/2008)




Um comentário:

Ari disse...

Quero comprar o livro