quinta-feira, 4 de junho de 2009

Anna Akhmátova

(1889-1966)

Eu visitei o poeta
ao meio-dia em ponto. Domingo.
Quietude no amplo quarto
e, fora das janelas, o frio
e um sol cor de amoras silvestres,
envolto em névoa hirsuta e azulada...
Com que olhar aguçado o taciturno
anfritião olhava para mim!
Tinha olhos daquele tipo
de que a gente nunca se esquece;
melhor seria, cuidadosa,
eu não devolver seu olhar.
Mas me lembrarei sempre da conversa,
do meio-dia nevoento, domingo,
naquela casa alta e cinzenta,
junto aos portões do Nevá para o mar.
Janeiro de 1914

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