segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

100 anos da mais que notável

Carmen Miranda
Há 100 anos, precisamente em 09 de fevereiro de 1909, nascia na Freguesia de Várzea de Ovelha, distrito da cidade do Porto, em Portugal, a primeira e mais perene grande estrela da canção brasileira: Maria do Carmo Miranda da Cunha, que se tornaria Carmen Miranda, a artista do Brasil mais conhecida no mundo em todos os tempos.
Uma carreira artística em qualquer linguagem só se marca se comunica singularidade: a alma do que especifica e se impregna na memória do povo, o que em alguns casos, emblematicamente o de Carmen Miranda, torna-se para sempre modelar no lugar em que ela surgiu. O lugar da música popular do Brasil tem Carmen como a nossa estrela inesquecível, a que reuniu em si fama, fortuna, talento e popularidade fora e dentro do nosso país. Mesmo morta, a rainha dos balangandãs é a mais viva em seus exemplos e glórias, a mais seguida por muitas outras nesta nação de grandiosas cantoras. Ela, a cantora de expressão única, de comunicação alusiva à construção de certa identidade no centro da nação na qual ela não nasceu.
E talvez, Carmen Miranda seja a mais carioca (e brasileira) de todas as cantoras nascidas e efetivadas aqui, entre nós, em todos os tempos. Musa de muitas gerações e marca maior e primeira da internacionalização do samba como nossa música genuína. Serviu como elemento aglutinador dos nomes musicais que alicerçaram nossa canção nos idos anos 30 e 40 do século XX. Foi a voz de Josué de Barros, o seu “descobridor”, do genial Assis Valente, de Sinval Silva, o mítico autor de Adeus, batucada, de Lamartine Babo, de Braguinha, e do nosso patriarca, o baiano soberano, Dorival Caymmi.
Carmen é a mítica do carisma da invenção em si mesma. Alguém que veio expressar genialidade em gestos, canto, sedução, força cênica, alcance e ser a logomarca artística e política da história musical do Brasil. Se tínhamos Chiquinha Gonzaga compondo há muito lá no Rio, Carmen veio cantar e sambar para se consagrar, através de Hollywood, como a brasileira internacionalmente mais famosa até o tempo presente. Veio pulverizar a sua juventude peculiar embalando versos como: “Samba mocidade/ Sambando se vence nesse mundo”. E ela, sob muitos aspectos, venceu.
Amplamente singular, que como tal, como diferença genial, pode ressoar em nomes como Maria Bethânia, a cantora baiana acusada de linear, que de modo empertigado, tornou-se eterna com os adornos estéticos da sua própria construção; em Clementina de Jesus, tardia grandeza de um canto sem par no Brasil; em Elza Soares, emblema de uma comunicação jazzística e representante do grande samba brasileiro.
Carmen ainda pode ser lindamente homenageada pela singularidade da voz sublime de Gal Costa, quando esta lançou Gal Tropical (1979), revisitando canções lançadas por Carmen como Balancê e A preta do Acarajé; balançar os quadris do baiano via Daniela Mercury atualmente; e pode ainda abastecer esteticamente a iniciante Juliana Ribeiro, outra grande promessa da Bahia para o Brasil.
(Publicado no Opinião do A Tarde em 15 de fevereiro de 2009).

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