sábado, 21 de fevereiro de 2009

Por um ano de defesa

Dedo de Prosa: Nos passos de Oyá-Bethânia

Cleidiana Ramos

Luciano da Matta I AG A TARDE
Marlon Marcos fez pesquisa sobre a relação entre arte e religiosidade
Marlon Marcos fez pesquisa sobre a relação entre arte e religiosidade

Hoje é dia de festa para santa Bárbara católica, mas também para a guerreira deusa dos ventos e senhora dos raios, patrona dos mercados e portanto da boa sorte, Oiyá-Iansã dos ketu ou Bamburecema dos angolas. É hora de homenagens, mas também informação sobre pesquisas interessantes relacionadas, de alguma forma, a este aspecto da religiosidade baiana. O jornalista Marlon Marcos, religioso de candomblé, fez a sua dissertação de mestrado em Estudos Étnicos e Africanos sobre a relação simbólica entre a arte de Maria Bethânia e o seu orixá Oyá-Iansã. É um belíssimo trabalho de pesquisa unido à poesia e feito por alguém que, além de competente pesquisador é uma figura humana incrível. Para quem deseja conhecer mais detalhes sobre o trabalho ele ainda não está publicado, infelizmente. O jeito é aguardar mais um pouquinho, mas como o próprio Marlon afirma, "Iansã vai vencer mais esta guerra".

Como surgiu a idéia para a elaboração da pesquisa?

Foi quando eu estava fazendo uma disciplina na Facom (Ufba) que discutia os mitos contemporâneos e, principalmente, depois de ler Edgar Morin em seu Mito e Sedução no Cinema, onde ele teoriza sobre o “star sistem”, sobre a fabricação das estrelas e associa os mitos midiáticos aos originais.


O que você destacaria como principal conclusão do trabalho?


Parafraseando Lévi-Strauss: a importância que os mitos têm para nos fazer pensar nós mesmos em nossos ritos cotidianos. E mais ainda: a importância artística de Maria Bethânia que traduz esteticamente, e com muito respeito, alguns elementos sagrados da religião negra que muitos professam aqui no Brasil. Meu trabalho é uma antropologia da beleza e da possibilidade divina presente em qualquer ser humano. E nós, povo-de-santo, sabemos disso.


Além de Bethânia você citaria uma outra artista que estreitou a sua relação artística com o candomblé de forma tão próxima?

Clara Nunes – bem destacadamente-, um pouco dona Clementina, Lia de Itamaracá. E aqui, na Bahia, seguindo os passos de Bethânia e de Clara, Mariene de Castro. Agora, tem uma voz masculina que cria canções-mantras para orixás, inquices e voduns. Seu nome é Tiganá Santana.


Na condução da pesquisa qual foi o seu maior obstáculo?

Fazer uma pesquisa de campo no Terreiro do Gantois, pois candomblé é coisa muito séria e em um lugar como o Gantois a proteção contra olhares estrangeiros e precipitados é bem presente. Entrevistar Bethânia pessoalmente e por fim, diminuir, equilibrar a paixão que sinto pela cantora, pra mim, a maior artista da canção brasileira em tempos atuais.Quanto a Oyá: muito acará, respeito e a devoção de sempre.


Fiel ao arquétipo do orixá que deu o tema do seu trabalho, então, missão vencida.

Sim. Ter realizado esta pesquisa, e no Ceao, sob a direção maior e melhor do meu mestre Cláudio Pereira foi uma realização prazerosa. Inscrevi-me, como sempre quis, no rol da antropologia, minha grande paixão científica. Fiz uma homenagem a Iansã e a Maria Bethânia; Levei o nome de Maria Bethânia para dentro da antropologia, ela, a artista que mais aspectos antropológicos incorpora em seus trabalhos. Ah! Essa Bethânia me deu muita sorte.

P.S.: Originalmente publicado no Portal do A Tarde Online, pelo blog Mundo Afro, editado por uma das mais importantes jornalistas desta terra, Cleidiana Ramos. Neste dia de comemoração e de rememoração não podia faltar aqui !

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