Dedo de Prosa: Nos passos de Oyá-Bethânia
Cleidiana Ramos

Hoje é dia de festa para santa Bárbara católica, mas também para a guerreira deusa dos ventos e senhora dos raios, patrona dos mercados e portanto da boa sorte, Oiyá-Iansã dos ketu ou Bamburecema dos angolas. É hora de homenagens, mas também informação sobre pesquisas interessantes relacionadas, de alguma forma, a este aspecto da religiosidade baiana. O jornalista Marlon Marcos, religioso de candomblé, fez a sua dissertação de mestrado em Estudos Étnicos e Africanos sobre a relação simbólica entre a arte de Maria Bethânia e o seu orixá Oyá-Iansã. É um belíssimo trabalho de pesquisa unido à poesia e feito por alguém que, além de competente pesquisador é uma figura humana incrível. Para quem deseja conhecer mais detalhes sobre o trabalho ele ainda não está publicado, infelizmente. O jeito é aguardar mais um pouquinho, mas como o próprio Marlon afirma, "Iansã vai vencer mais esta guerra".
Como surgiu a idéia para a elaboração da pesquisa?
Foi quando eu estava fazendo uma disciplina na Facom (Ufba) que discutia os mitos contemporâneos e, principalmente, depois de ler Edgar Morin em seu Mito e Sedução no Cinema, onde ele teoriza sobre o “star sistem”, sobre a fabricação das estrelas e associa os mitos midiáticos aos originais.
O que você destacaria como principal conclusão do trabalho?
Parafraseando Lévi-Strauss: a importância que os mitos têm para nos fazer pensar nós mesmos em nossos ritos cotidianos. E mais ainda: a importância artística de Maria Bethânia que traduz esteticamente, e com muito respeito, alguns elementos sagrados da religião negra que muitos professam aqui no Brasil. Meu trabalho é uma antropologia da beleza e da possibilidade divina presente em qualquer ser humano. E nós, povo-de-santo, sabemos disso.
Além de Bethânia você citaria uma outra artista que estreitou a sua relação artística com o candomblé de forma tão próxima?
Clara Nunes – bem destacadamente-, um pouco dona Clementina, Lia de Itamaracá. E aqui, na Bahia, seguindo os passos de Bethânia e de Clara, Mariene de Castro. Agora, tem uma voz masculina que cria canções-mantras para orixás, inquices e voduns. Seu nome é Tiganá Santana.
Na condução da pesquisa qual foi o seu maior obstáculo?
Fiel ao arquétipo do orixá que deu o tema do seu trabalho, então, missão vencida.
P.S.: Originalmente publicado no Portal do A Tarde Online, pelo blog Mundo Afro, editado por uma das mais importantes jornalistas desta terra, Cleidiana Ramos. Neste dia de comemoração e de rememoração não podia faltar aqui !
Nenhum comentário:
Postar um comentário