sábado, 10 de abril de 2010

Da alma sob chuva

"E faz-se a canção
do inverno assim:
com as cinzas da chuva
e o frio de mim".
Ruy Espinheira Filho



Me desenho nos escritos a lápis abaixo de um tempo que molha.
Faz silêncio lá fora. Aqui, bem de dentro, o mundo me mastiga
e barulha sobre o meu lamento.

Faz noite. As estrelas se foram no percurso da minha melancolia.
Tudo se movimenta em lentidão a respeitar
o silêncio lá fora.

Me aguardo nas respostas que me pus a esperar.
Não há nada que eu mesmo no exterior de mim.

Secura ávida numa falta de encontro.
O exagero de uma alma além do diferente.
E nomes terminados em mar.

Agora chove. O silêncio é água nesta
minha vida que não sabe navegar.

Me afogo no desenho a lápis:
tudo me rabisca e não se conclui...

A chuva me ultrapassa e me aparta
de qualquer solidão acompanhada.

Estou-me em mim ancorado no vazio
infindável deste tempo que me escapa.
Tenho a coragem dos pássaros enfrentando
invernos rigorosos.

O que me apaga é a borracha da
existência que eu mesmo escolhi.

Faz frio apesar de sábado.

Nenhum comentário: