Eu tenho coisas a fazer. Um trabalho intermediário - uso corpo e alma - para durar entre os que estão e os que ficarão por aqui. Não é nada religioso. É a matéria se querendo mais concreta, menos quântica e buliçosa. Trabalho hercúleo medindo minha capacidade de suportabilidade. Trabalho exato para o alcance dos objetivos que não são meus mas são pois me chegaram neste discurso sociológico desta tal sociedade em que só me vejo incluso quando voto pago imposto ou me embebedo. No último, incluso porque incomodo. Este é um tempo para não se pensar, seguir rumos em outra cidade, secar sonhos ou postergá-los, fechar as janelas, blindar o peito e deixar de frequentar gente. Um tempo para solitários. Fastio da imaginação. Meu corpo e alma negando espírito e indo até o desenho do não grafitado na parede da repartição onde trabalho sem corpo e sem alma. Minha vida paralela entre reentrâncias, reticências e interrogações. Como não pesa o sólido, maior é o vazio da solidão.
E tenho tantas coisas para fazer! No começo, é assim: abro um livro de poesia que fale de morte e morro ali nas páginas; volto reencarnado numa forma minha de escrita, ouço alguma música e, no mais difícil de tudo: me ponho a esquecer.
Esses tempos nem machucam. A memória empertigada, cala diante das faltas. Esses tempos me obrigam à nutrição. Engordo o corpo porque me devo tudo. E saio, sem lamentação, para ocupar-me com o que se deve fazer de bom para si e, às vezes, para os outros. Em algum lugar tem mar. E temo errando à risca Ro Ro em notas de canção sem piano. Este vazio tem sido alto e estridente: bateria à frente do sax que esqueceu de mim. Desabafo livremente e o ano, mais uma vez bem rápido, está acabando. E eu não posso seguir acabado.
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