terça-feira, 8 de junho de 2010

Memórias do Mar


Vou escrevendo livremente para ocupar a noção de liberdade que tenho mas não exerço. É manhã nessa minha grafia taciturna e mesmo que com pouca luz, espelho meu rosto e suas imperfeições para os outros. É uma trama sem deleite só delação; um quase gozo horas à frente de uma visão anterior do amor que nunca passou mas, eu penso.

Penso com sofreguidão e ainda assim, escrevo. Quero o livre de me dizer sem medo nem truques; meu dia tem sol e Bahia e sobre o mar daqui me sei dar perdão. Sinto meu próprio gosto ao sentir a vida e faço sexo com este tempo quase dominando-o. Eu o assusto quando evito sentir pena de mim e, escrevo.

Sorrateiramente escrevo com meus erros todos e atiço preces... Os deuses me ouvem porque agora sou mais livre do que eles. Tenho a imensidão de mim, alcanço a todos e não sinto falta de ninguém. Este é o segredo da liberdade: caminhar sem ninguém; sem o barulho do peito confuso ansiando o gostar do outro; sem o ímpeto do encontro; sem os milhões de cartas desrespondidas agredindo o próprio orgulho.

Escrevo para delinear sentimentos... Sinto meu corpo barco, meu corpo peixe, meu corpo pescador, meu corpo sereia, meu corpo amantes na areia, meu corpo vento, meu corpo algas... Invento assim, minhas memórias do mar.

Em cada étimo, a palavra tratando dos meus desejos inconfessáveis no que, por liberdade, eu confesso. Tenho a luz memorial na chegada de um livro. Confesso meus crimes amorosos: ligações intermináveis, bebedeiras incuráveis e meu corpo desenhado na memória minha dos amores que não me nutriram.

Escrevo também para escapar da falta e me alimento nestas palavras salgadas vindas de águas oceânicas das entranhas da baía onde nasci.

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