Do poeta para a escritora que escreve com a voz:
Eu sei que é junho, o doido e gris seteiro
Com seu capuz escuro e bolorento
As setas que passaram com o vento
Zunindo pela noite, no terreiro
Eu sei que é junho!
Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento
Eu sei que é junho, o barro dessas horas
O berro desses céus, ai, de anti-auroras
E essas cisternas, sombra, cinza, sul
E esses aquários fundos, cristalinos
Onde vão se afogar mudos meninos
Entre peixinhos de geléia azul
Eu sei que é junho!
Alceu Valença
Com seu capuz escuro e bolorento
As setas que passaram com o vento
Zunindo pela noite, no terreiro
Eu sei que é junho!
Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento
Eu sei que é junho, o barro dessas horas
O berro desses céus, ai, de anti-auroras
E essas cisternas, sombra, cinza, sul
E esses aquários fundos, cristalinos
Onde vão se afogar mudos meninos
Entre peixinhos de geléia azul
Eu sei que é junho!
Alceu Valença
Um comentário:
Junho! Alceu Valença. Compositor nobre. Dono de palavras e metáforas fabulosas. Poeta mítico da música do Brasil.Ah!Junho, mês de frio, de procuras por cantos aconchegantes e iluminados, mesmo se sabendo que o frio convida à meia luz,e que por mais que se tente clarear o coração e os pensamentos, a luminosidade é contida. Quando digo assim desse modo, não significa que estou insinuando o arrependimento, a desilusão, o entristecer, é que simplesmente a chegada do inverno favorece esse recolhimento interior, onde nos vemos com mais clareza e nos questionamos com maior intensidade e exigência. Há a fuga, com certeza, que pode se apresentar para nos desestimular à penetrar nessa imensidão interior, contudo, ela não seduz heróicos e destemidos guerreiros.Longe disso, esse mergulho serve de estímulo para o descobrimento de outros terrenos. Férteis e infinitos, de desejos e realizações.Os dias tornam-se curtos e as noites longas.Longas noites para pensar e sonhar, cavar e descobrir, no silêncio tão bom das multidões.O poema "Tabacaria" do Fernando Pessoa diz assim: "Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!"
É Junho!É Bethânia, a "Senhora do Vento Norte"!!!
Postar um comentário