quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Chet Baker



Ontem o mundo em seus turbilhões aniquiladores caíram sobre mim: a burrocracia humana. E tudo muito cheio, muito barulho, muita incompetência... O vazio não se deixava chegar e eu sabia: só silêncio! Onde encontrá-lo? Na dimensão dos anjos malditos; numa voz magistral e um trompete elegância - Billie Holiday, Chet Baker. Doeu até me esvaziar. Fiquei só com Baker já que a doçura do seu canto sussurro sou eu inteiro e me perdi, na maldição, deste mundo dos cristãos. Na coloração da tristeza pela arte, me salvei das regras e da poeira nos documentos. Esqueci-me que estava em Salvador e que tornaria enfrentá-la na manhã seguinte... Nada, meu ouvido estava colado na voz e no trompete de Chet...

Sorrisos e lágrimas e meu mundo insone a me fazer lembrar. Eu naquele cansaço pessoano, sem escritos, ouvindo tão perto tão longe a força dos meus devaneios que era minha paixão. Arriscando-me a pronúncias desnecessárias e quando bem acordado extraía dali o silêncio purificador da minha alma: a beleza inexplicável de Chet Baker. Esse meu riso interno na certeza que ele existiu. O improviso da grande arte no jazz da vida de um homem atormentado. Minhas lágrimas exteriores a comprovar o vazio generalizante da vida que exercemos e eu girando de prazer naquela voz me fazendo mais doer na dor do artista: uma relação sexual. Inteira.

Minha vontade de não amanhecer mas também, de ficar eternamente no movimento sereno daquela dor que a voz trazia e me entregava prazer... Chet Baker - outro tipo de poesia consonante com o Pessoa e o Rimbaud que sou eu; o Chet que me faz amar mais João Gilberto; o Chet que realçava a inigualável cantora Billie Holiday... O Chet que me faz tremer rememorando o que eu mais quis na vida e mesmo sem acontecer me consola... O Chet que eu ainda sonho na voz de Gal Costa.

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