O tempo é paralelo e em várias dimensões. Ele me reordena num processo de animação visual e auditiva e tudo que apreendo chaga a mim em fragmentos da arte. Meu vínculo super humano. Contrapontos do que sinto em formatos de passado virando futuro, de futuro ameaçado e presente lotado de saudade. Saudade imprimida na doçura afinada da mais bela voz... Cantiga.
O tempo que me envelhece e me faz, sozinho, rir de mim mesmo; este mesmo tempo que me sangra em poesias e me faz desaprender mas não esquecer. Eu não esqueço.
O tempo é a sabedoria ventando, é a eternidade não sendo. Eu ouço canções para marcar minha duração e fico preso à história delas que também são minha vida sem narrativa concreta.
O tempo é maior que o espaço - deveras; e sigo em cansaço impregnado numa voz que faz a brisa no Porto da Barra e me põe imerso nas memórias que achava ter ficado para trás.
O tempo é. 65 anos quase e um abrupto afastamento. Mulher viva patrimônio de uma nação. O tempo é. Escritos espalhados e sem sentido pululando no peito sujeito de homem sem segredos a ouvir canções galcostianas e doer sem morte na ideia da saudade.
O tempo me é saudade se repetindo. Eu sinto e vibro naquela emissão. Tenho a largura do mundo no meu coração maltratado mas eu espero.
O tempo é minha espera alicerçada em cega esperança. Meu tempo se escora e descansa em minha fé. Não tenho história e nunca seria minha vida um livro. Tenho este átimo de presença frente ao meu espelho e quando me vejo já morri.
O tempo é aquela voz sumida que continua - zumbido bem sentido no batuque da minha emoção. Meu chamar Dindi. Meu desligar o motor. Minhas ruas de outono. A cara de Gabriela. O poeta ressuscitando. A lágrima negra que cai e dói. Sua voz, nossa vida.
Meu tempo é ela e ele que não saem daqui.
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