Senhora do mar grande que empresta seu mistério à beleza da nossa Baía, não deixe que o progresso sem propósito esvazie sua poesia e estraçalhe a vida marinha que ilumina o povo deste lugar.
Senhora da dança sagrada que vira baleia golfinho sereia, que é água em abundância, e norteia o pescador; Mãe da discreta sedução e mulher do fascínio melhor - protege seus filhos da ganância dos detratores amedrontados do mistério e lança seu alfange para derrubar quem atentar contra sua Natureza, oh! Rainha.
Senhora deste lugar indígena que vela por qualquer etnia, musa energética oriunda da África, beleza negro-feminina lança sua limpidez sobre os oris dos imbecis do desmando do capital para que desistam de arrancar o que de mais belo figura entre nós.
Senhora embalada por cânticos e atabaques, mote vivo a quem recorre qualquer literato, espelha das águas da Baía de Todos os Santos a inteligência que anda faltando aos cristãos e agnósticos que, nesta terra, estão no comando.
Senhora de dentro do livro de Jorge Amado, das doces canções marítimas de Caymmi, da voz mais linda nascida, em Salvador, à beira da Baía: Gal Costa, da força gigante de Maria Bethânia, do sussurro feminino da cantora baiana Stella Maris e do marulho de Jussara Silveira, joga o elemento arte como progresso e conserva o mistério de deixar quase intacto o seu lugar.
Senhora, minha mãe, inibe os perversos e os faça voltar para a sanha do verdadeiro progresso; o mar da Bahia é o caminho necessário para que chegem Castro Alves, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gerônimo; João Ubaldo Ribeiro, Rui Espinheira, Karina Rabinovitz. Sem o mar neste azul a nossa poesia sucumbe.
Senhora detentora de todos os peixes, seus filhos, toma conta do sentido maior de qualquer nação: o povo. E é pela vida dos anônimos desta terra que lhe lanço o pedido: não haja ponte nenhuma ligando a Cidade da Bahia ao potentado Ilha de Itaparica. Nossa ponte é o que nossos olhos veem e o que nosso corpo sente; é o pensamento passeando fluido respirando aquele oxigênio; é a brisa refrescando nossas tardes mergulhadas em memórias; a delícia de suas águas que queremos mais limpas... Oh! Mãe, escutai esta súplica.
A senhora em seu imaginário de águas, maternidade, guerra, lar e alimento é quem é nossa verdadeira ponte - canal de ligação entre o que a vida sente e a alma apreende; Mãe da serenidade agressiva que se tranforma em maremotos, invalida furiamente o projeto enganador.
Senhora do Dois de Fevereiro, festejada pelo povo da "Baía", sua morada maior, não deixe que tirem da gente o resto do sentido agregador, que de fato, nos dá orgulho de ser baianos. Nascidos à beira da Baía de Todos os Santos.
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