Quero acordar dali me perdendo das palavras e me deixando ver mais vazio. Seguro de um fascínio absoluto que é cênico e inconcluso e pode desvanecer... Quero deixar de rastrear aquele olhar e abandonar aquela mão apontando caminhos... Estar imune à serenidade da imagem, aos cortes da fala, ao peso da ausência meditada, às canções, à beleza sem medida, à excelência, à arrogância, à feição de diva, ao minímo, ao excesso, aos brados acústicos, à força daquele mistério, ao medo que ruge nela, ao salutar silêncio. Quero desaprendê-la.
Vir à tona mesmo que sem qualidade e ser sem fanatismos ou espera: melhorar-me! Eu - um projeto de mim solto nesta arte de se ter sozinho sem o consolo edificante da musa - a que nunca chega! A não ser nas revoadas artísticas da sua condição: águia predileta, aguaduto de uma nação.
Quero secar daquela água mesmo que deixe minha alma em sede eterna e me dar o perdão para ser totalmente livre e andar contrário ao seu voo inspiração... Quero aprender o seu distanciamento sem o jogral do olho, sem o texto da cara: nada de psicodramas ou de curas arrebatadas - estou nos líquidos de uma cisão que são minhas lágrimas geradas pela distância que perfila ela.
Quero não atravessar a Ponte - esquecer sons poemas amanheceres paixões luares olhares lugares escritos discos gente - e viver no confuso lado de cá a imaginar o que seria, em prazer, o tenebroso lado de lá...
Escrevo para espelhar a terrível fantasia de que possível seria apagar da audição da minha alma a voz apaixonada desta mulher que é a voz da minha paixão.
Então, em palavras, eu volto a dormir. E que ela cante e declame. Para mim, a vida se suaviza ali naquela garganta.
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