Gal e o mar
Em cada canto de mim há o frescor de uma lembrança e nada se cansa em se fazer lembrar aqui. Eu não me esqueço. Ouço vozes em olhares, sinto perfumes em meu paladar, cheiro sabores de gente e toco no indelével poético de quem, para sempre, grudou-se em mim. Não há vazio, meus espaços estão ocupados - o daninho é que não sei desalojar e sigo pesando gente nome cor letra escrita roupa rastro riso barulho silêncio. Silêncio me salva; mas às vezes me mata. E eu estou morto ouvindo versos na mais bela das vozes: "se o amor escraviza mas é a única libertação". Sigo livre dentro da mortandade e sei pensar contra mim. Penso tenso sem querer chorar: meus olhos a distância e meu coração de perto são minha condenação. E eu sei aonde está. Eu sei encontrar na linha do horizonte ou na fuga do desejo gerada pelo medo pela repulsa do não se deixar. Eu me deixo refletido numa voz: "minha luz escondida, minha bússola e minha desorientação". Festejo tristezas - há um carnaval se findando aqui e ali as cinzas do meu desencontro. Quero espelhar a beleza dos meus sonhos: tenho algo a dizer e digo na voz sagrada de um canto, eu - sentindo a calmaria suja e fedorenta da cidade mais amada. Vago sozinho e sempre pela paisagem mais amada: o mar soteropolitano. Visto-me de rosa e espero a canção acontecer...Tenho tantos sonhos e leve, tenho muito o que dizer e transformar em ser o movimento do meu desejo. Quero ainda. Muito. E insisto no tempo de outrora:" pra ser feliz, pra sofrer, pra esperar, eu canto... uma flor sem limites, é somente porque eu trago a vida aqui na voz". Sucumbo sem tempo nenhum e por esse aprisionamento me torno o deus da minha existência.
E, para esperar eu escrevo.
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