A Cidade da Bahia, nossa querida Salvador, grande centro de irradiação artística para o Brasil, ao longo de sua história, no século XX, deu ao cancioneiro nacional muitos nomes que revolucionaram a música brasileira e que ajudaram a conferir a este país a posição de um dos mais criativos produtores musicais do planeta.
Impossível, neste espaço, elencar os nomes baianos que agigantaram a canção brasileira. Mas, nossa sofrida e alegre cidade, internamente, sempre se alimentou de uma musicalidade dedicada ao carnaval que depois da invenção sagrada do trio elétrico em Dodô e Osmar, passou pelo samba do mestre Batatinha, de Riachão, Gordurinha, chegando à voz eletrizada de Moraes Moreira e da grandiosa Baby Consuelo; sem falar nos Apaches do Tororó, no Ilê, no Malê, no Badauê. Tudo muito centrado na carnavalização que descambou na rentável Axé Music, sistematizada pelo criativo Luiz Caldas; daí foram macacões, mortalhas, abadás; Chiclete, Asa, Ivete, para ilustrar a maior festa da Bahia. De 1985 até os dias atuais, a música baiana, com destaque midiático, com alcance massivo de público, girou em torno daquilo que o jornalista Hagamenon Brito, grande conhecedor de música popular, para chatear, nomeou Axé Music.
Ficamos mergulhados e desgastados na música do carnaval. Novidades vieram com o pagode do Gera Samba, depois É o Tchan, Harmonia do Samba (revolução sonora e comportamental na dança de Xandy); mais recentemente, Psirico, Fantasmão e Parangolé – tudo verão, tudo carnaval.
Feições artísticas que transpuseram a fábrica carnavalesca foram: o nome internacional Daniela Mercury, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Márcia Short e Gerônimo.
Agora, findando-se a primeira década do século XXI, temos a chance de viver intensamente nossa musicalidade alicerçada numa base criativa mais universal e menos presa à indústria carnavalesca. Tem acontecido na terrinha, o ecoar de vozes iluminadas, de canções urbanas, de músicos primorosos, todos dedicados a conviverem com o Axé, fazendo de Salvador palco de efervescências sonoras dialógicas com o melhor que se produz nas principais capitais brasileiras.
É um alento sonoro, por exemplo, conhecer o trabalho autoral de Tiganá Santana, que lançou recentemente o CD Maçalê, e traz para o Brasil elementos da cultura banto, do ponto de vista poético e musical, elaborando canções em língua quibundo, quicongo e re-orientando, esteticamente, o fazer de outros compositores e intérpretes: o moço é um gênio e vai dar muito que falar. Nesta estrada de novidades baianas, já temos uma nacional, a elegante Márcia Castro que já cantou até com Mercedes Sosa e no palco desfia estilo e talento. E Manuela Rodrigues, bela compositora e excelente cantora tomando conta das melhores rodas musicais de Salvador. Temos a afinação espetacular de Sandra Simões nos ofertando sempre com grandes projetos que trazem o melhor da música e o melhor de Sandra.
Para não falar só de compositores-cantores, há de vicejar culturalmente uma cidade que tem como oferta musical composições de Roque Ferreira, Roberto Mendes, Jorge Portugal, Márcio Valverde, Luciano Salvador Bahia, Jota Velloso, o negro Dão que também canta lindamente, Edu Alves, Harlei Eduardo, Juracy Tavares.
Devemos prestar a atenção na mais representativa cantora em atividade na Bahia, Stella Maris a mais bela voz, profunda intérprete, sempre acompanhada e dirigida por outro patrimônio artístico baiano: Alex Mesquita.
Também a inenarrável Mariela Santiago, a grandiosa Juliana Ribeiro – nome a se lançar ao Brasil rapidinho; e os rapazes: Carlos Barros, voz de entrega doce e Peu Murray – arraso negro na música baiana.
Prestem atenção a Ana Paula Albuquerque – impressionante cantora que a Bahia também deve apresentar ao nosso país.
Estamos dando uma guinada de muita qualidade: Tiganá Santana, Stella Maris, Juliana Ribeiro, Márcia Castro, Sandra Simões, Manuela Rodrigues, Cláudia Cunha, Mariela Santiago, Carlos Barros, Ana Paula Albuquerque, Rita Braz, Juracy Tavares, Peu Murray, Jota Velloso, Clécia Queiroz, Mazzo Guimarães, Edu Alves, Déia Ribeiro, Dão. Não paremos por aí.
Marlon Marcos é jornalista e antropólogo
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