Por Tereza Pires
Entre 30 abril e 9 de novembro de 2010, 120 pinturas e 70 desenhos de Frida Kahlo estarão expostos no Martin-Gropius-Bau, situado na Niederkirchnerstr, 7, Berlim. É a mais extensa retrospectiva da artista, incluindo obras nunca trazidas a público, algumas consideradas como perdidas e a última, inédita, até então. A mais famosa mulher artista na primeira metade do século 20 alcançou este patamar combinando cores, cultura e folclore mexicanos com experiências traumáticas da vida pessoal. Ao captar o drama da deficiência física, o visitante percebe, na mostra de Berlim, as paisagens que se transformam em fantasias sexuais e o sutil humor em alguns textos e imagens.Frida foi uma das pessoas mais desejadas do seu tempo, por muitos homens e algumas mulheres. Carismática, sabia como seduzir as pessoas por quem era atraída e seu modo de se vestir lançou um estilo, seguido até hoje. Além da moda, sua figura é cada vez mais fonte constante de inspiração na música e nas artes plásticas e visuais.
“Para que pés, se tenho asas para voar?”
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasceu em 6 de julho de 1907 em Coyoacán, México, do casamento de Guillermo Kahlo, de origem alemã e Matilde Calderón. Filha de fotógrafo, sabia utilizar a câmera, revelar, retocar e colorir, o que lhe seria muito útil na carreira.Sempre soube como se posicionar - direcionava o olhar intenso para a câmera e mantinha os lábios fechados. Aos seis anos contraiu poliomielite, o que lhe afinou a perna direita. Para ocultar o defeito físico, começou, muito jovem, a usar calças compridas e, em seguida, passou a vestir-se com roupas masculinas.Estudante da Escola Preparatória da Cidade do México (1922), participou do grupo de vanguarda “Los cachuchas” interessado em literatura e nas idéias socialistas. Fazendo moda de protesto, os membros escolheram, para se identificar, uma espécie de gorro, usado pelos traficantes. Destas fileiras, saíram muitos líderes da esquerda mexicana.
“Corpo rima com dor”
Em 1925, sofreu o terrível acidente de ônibus que marcaria para sempre sua vida. A perna doente sofreu nada menos do que onze fraturas, três vértebras lesionadas jamais foram curadas e a dor era constante. Frida teve graves sequelas na área genital, tornando-se incapacitada para a maternidade.A medicina daquele tempo torturou seu corpo com 35 cirurgias: enxertos de coluna, trações, amputações de dedos, uso de coletes ortopédicos de gesso, couro, argila e metal. Durante a longa recuperação, a artista começou a pintar seus pequenos autoretratos. Como saía nas fotos, assim mesmo se pintava: sobrancelhas unidas e um buço desenhado meticulosamente, fio a fio.Primeiro, foi realista, pintando retratos de amigos e familiares. Depois, para exorcizar a dor no corpo destroçado, passou a usar imagens oníricas, muitas vezes brutais. Uma boa parte de sua obra é associada à Escola Surrealista. Perguntada sobre o motivo que a levou a ser a protagonista de sua própria arte, respondeu que passava muito tempo sozinha e era o modelo que melhor conhecia.
Na Gringolândia
Depois de 3 anos experimentando técnicas diversas, resolveu enviar algumas obras a Diego Rivera, que a encorajou a continuar seu trabalho. Enquanto pintava, presa ao leito, continuava imersa na sua realidade social e compartilhava com o famoso muralista os compromissos com a Revolução Mexicana e a exaltação da mexicanidade, contra a americanização.Kahlo e Rivera casaram-se em 1929, divorciaram-se em 1940 para se recasarem pouco tempo depois. De 1931 a 1933 Rivera – convidado para pintar um mural e Frida na tentativa de experimentar alguns tratamentos pioneiros - viveram nos Estados Unidos, a Gringolândia, como ela chamava. Foi uma estada malsucedida. Ela não se vestia como as saudáveis norte americanas, usava calças compridas e fumava em público. O que, na época, era um tabu.Reinvenção da mexicanidadeAo adotar o traje típico de Tehuantepec, por sugestão de Rivera, não procurou disfarçar a deficiência física e nem se fantasiar com roupas folclóricas e cores locais para ir a um baile de carnaval. A opção pelo vestuário de índia tehuana, ao contrário do que pode parecer, não era um ato fútil: chegou no momento em que Frida desejava validar sua cultura e fazer parte dela. Era um figurino diário colorido, com acessórios exuberantes, anéis em todos os dedos, flores na cabeça e saias volumosas.Na pintura, este engajamento aparece nas representações dos “ex-votos” - quadros de formato normalmente pequeno, que o povo mexicano confecciona para agradecer os milagres da Virgem Maria e dos Santos.
“Que a partida seja alegre “
Verdadeiro ícone no México, apenas uma vez teve sua obra exposta em seu país, na Primavera de 1953. Proibida de comparecer pelos médicos, mandou chamar uma ambulância e chegou ao local logo após a inauguração do evento, levada em maca. Acompanhada por uma multidão de jornalistas, cantou, bebeu, contou anedotas. Neste ano, a perna direita foi amputada abaixo do joelho, em consequência de gangrena. A partir daí, Frida tornou-se deprimida, depressiva e tentou o suicídio várias vezes. A morte em 13 de julho de 1954 foi envolta em rumores de suicídio, sustentados pela ausência de autópsia. Suas últimas palavras, escritas no diário, foram: “Que a partida seja alegre e espero nunca regressar” . A fascinante Frida Kahlo, não tendo sido uma pintora extraordinária pela técnica, segundo os críticos, teve a capacidade de converter em arte sua própria vida.
P.S.: retirado do mixbrasil ( www.mixbrasil.com.br)
Um comentário:
Até 9 de novembro, vamos!
Postar um comentário