sábado, 13 de novembro de 2010

Bethânia cantando Tua


De uma noite quase vazia mas que me faz me sentir vivo. Sou eu intranquilo em repetidas audições de uma única canção: Tua. Aceso na vontade de alcançar o outro e deixar aquilo, marcar com a força de um dizer o amor que não sai de mim. Marcar nas evocações que o grande canto traz. Sou eu me transfiguarando em sons para vencer minhas limitações; ardendo, sedento, sonhando acordado; preso à minha maior experiência de beleza artística: me sendo os olhos da águia que vira indio, que é cacique.
No centro da noite que me caminha me tira a roupa me lê em prosa e verso mas não faz silêncio. O retrato da voz me dá saudade dela no palco e sua emissão me deixa na órbita de um encontro sem corpo sem resposta. Tua - trilha perigosa para instantes da insônia de uma alma sem produção. Uma carta abortada, uma ligação interrompida, um email suspenso no rascunho. Na verdade, "só tua, tua, só tua". A voz me repete para eu me oferecer inteiro à imaginação do querer acontecendo, corpos gemendo atrasando o amanhecer. Um misto de masturbarção e miragens. A beleza é a foto da cantora em minha parade e o transporte é a sua voz que me incita de coragem e esperança para além desta noite quase vazia.

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