domingo, 21 de novembro de 2010

Enquanto isso: domingo

De algum lugar virá a voz. As imagens aquáticas servirão de poemas a refrescar a quentura de uma procura que segue sem fim. Nada de termômetros ou ar-refrigerados. Tudo é medido ao natural e satisfaz breves instantes nessa patética investida do existir. Tudo brilha acima e se encena para despertar o querer continuar numa mussarela de vida autofágica. Tudo apaga-se ao centro, ao lado, pela frente, por trás, embaixo; tudo que é humano. E quase exterminado. Filosofia de Clarice Lispector para uma poesia de Arthur Schopenhauer: viver se alonga em um contínuo vazio. Só o absurdo salva porque assusta e consola e inibe o óbvio afugentando o tédio que prolifera dias de domingo.
Em algum lugar está a voz azul do poeta; voz secreta de uma quase felicidade envenenada pela falta de quem escreve. Em algum lugar a luz de cima: centelhas da beleza que significa a maior razão de se querer viver; em algum lugar cama feito palco ou o contrário para aquilo que mais agoniza e os pessimistas conceituaram amor.
Algum lugar sem a lentidão esmagadora deste dia: sem pronúncias descoloridas que afetam a comunicação.
Enquanto isso, tudo é ordinariamente normal para a vã ambição dos vitoriosos. Espúrios que normatizam os visionários.
Que não seja assim.

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