sábado, 27 de novembro de 2010

A grande Fabiana Cozza reverencia Tiganá Santana

Tiganá
Fabiana Cozza ( "a Consciência Negra está muito além dos nossos tecidos")

A sensibilidade da grande cantora alcançou o baiano Tiganá Santana, que é apresentado na coluna da diva paulistana no Yahoo, ao lado de Maurício Tizumba e Sérgio Pererê. O texto é expressivo e perfila com integridade a grandeza da maior revelação da música brasileira nos últimos anos: o nosso Tiganá. Confira:

Contemporâneos mas de gerações diferentes Mauricio Tizumba, Sergio Pererê e Tiganá são três reis magos. Vêm de negreiros diferentes no que concerne o rufar do tambor e os tecidos nobres que vestiram seus descendentes. Os dois primeiros aportaram nas Minas Gerais. O terceiro, em Salvador.

Os chamo de reis pela nobreza com que constrõem suas trilhas artísticas e ampliam seus/nossos olhares para além da aldeia que os/nos gerou, convidando gentes de muitos outros cantos para participarem de suas festas. Os chamo de magos porque fazem o que a palavra “magia” permite: arte, ciência, encantamento, proteção.

Tizumba é artista edificante e fundamental da geração após a de Milton Nascimento. Também herdou os negros das Gerais – do Candombe entoado por Dona Mercês, na Serra do Cipó, ao Congado do bairro de Aparecida comandado pela batuta da Maria. O Moçambique, as gungas, o patangomi que ele chacoalha e entoa na voz, nas composições aqui no Brasil e fora dele. Conheci “Tiza” na Alemanha ao lado de suas três parceiras – instrumentistas e cantoras – Beth Leivas, Danuza e Raquel Coutinho dançando e tocando para uma platéia de gringos deslumbrada pelo som sagrado que brotavam. Ali, em Berlim, em noite de festival internacional, a coroa assentava na cabeça deste ator, cantor, compositor e dançarino que se fez Tizumba há mais de 35 anos de carreira.

A mesma terra deu um fruto diferente chamado Sergio Pererê. Na lida do amigo mais velho, este artista impunha um charango no peito e cria sua ponte, estreita e tênue, entre a África de Youssou N´Dour e Salif Keita e o Brasil de Clementina de Jesus a João Bosco. Pererê fala de um país para além de sua placenta, aponta sua “parabolicamará” para outros continentes e transita entre eles sem cor.

Há alguns anos formou com outros parceiros como Sassá e Mestre Anthonio o grupo Tambolelê que arrasta uma multidão de jovens e adultos pelas ruas de Belo Horizonte em qualquer festejo, para qualquer direção. Suas letras seguem um dos fundamentos mais sagrados da cultura africana que é o respeito e a escuta aos mais velhos. Seu disco “Labidumba” e o nome do mesmo vem de um último suspiro do pai que lhe disse: “grave e leve esse nome consigo”.

Tiganá aportou em Salvador há 28 anos e para descobrir de onde veio foi investigar nas letras e dialetos – Quimbundo e Quicongo – sua semente. Faz música ancestral, canta como se rezasse, com a mesma dignidade das baianas que carregam acarajés em seus tabuleiros e o sorriso estampado no rosto há mais de 300 anos. Quando exerce seu ofício, todos rezam com ele. É bonito e luminoso de ver a paz tomando assento em sua música. Semana passada Tiganá esteve na Balada Literária, organizada por Marcelino Freire, e desfiou a canção “Le Mali chez la Carte Invisible”.

“De vez em quando eu sou a árvore que fez o Mali
ser a pele a cobrir as mulheres caídas sem os seus corpos.
A raça humana aqui pode ser infinita
se ela se chama partir
certa de sua unidade morta.
A África está dentro das crianças e o mundo está fora…”
Tizumba, Pererê e Tiganá dão muito sentido ao que chamamos de “consciência negra” porque ela está muito além de nossos tecidos.

Pra conferir, tudinho, inclusive os grandes músicos em ação, visite: http://colunistas.yahoo.net/posts/6672.html

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