segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Caetano Veloso: eterno em mim


Caetano Veloso, pra mim, sempre foi cores e nomes. O elo que eu tinha com o que me poderia ser mais bonito. Ele materializava palavras em mim, se tornando um dos meus poetas favoritos. Algo incrustado em minha alma, recorrência diária ao meu pensamento. Em outros tempos, chegou a ser divino: eu o queria amadamente intocável. O cantor, o compositor, o pensador, o ativista, o homem... Lições para o que quis e desejei na vida. E não era nada relacionado a dinheiro e sucesso; por ele, eu queria artisticidade.

Gostar de Caetano era me mostrar aos outros como sensível, inteligente, alternativo, de bom gosto, curioso e aspirante. Misto de orgulho e fascínio. Eu precisava daquilo para, com um pouco mais de 10 anos, aprender a ser o que eu teria de ser.

Cada disco - a voz masculina que eu mais amava. As letras me ensinando: sonhos e beijos na boca. Aprendi a metade sem aquela coragem que ele desenhava. Solar - como um baiano à beira mar. Interno, em suas buscas existencialistas. Externo, entre violento e doce. Para além do seu próprio canto, o condutor musical de Gal Costa. Eu adorava esses dois.

E minha vida seguia, dentro das incontáveis dificuldades, descobrindo cores e nomes que Caê ventilava. Amava ainda mais a Bahia. Derretia-me quando o ouvia dizer que a cidade da sua preferência era Salvador, o lugar onde nasci. Em mim, o divino se humanizou. Passei a criticá-lo, a discordar de algumas falas e ações, mas como artista, sons e palavras, ele se conservava como o que mais me ensinava, somando-se a outros nortes como Clarice Lispector, Maria Bethânia, Fernando Pessoa, Simone de Beauvoir, Billie Holiday, Caio Fernando Abreu, Hilda Hilst, Gilberto Gil, Gal Costa.

Na ginga de tantas tormentas, tantos anos se passando, ele assinando manifesto contra cotas, desabonando a história social de Lula, ensimesmado em sua reluzente inteligência, representando a alta classe média branca do Leblon carioca... Tantas tormentas nos acomentendo mas, em mim, ele ficando. Ficaria, monoliticamente, tão somente por conta de Trem das Cores. E foi e é para muito acima disso: meu mestre me ensinando das rádios, dos discos, da TV.

Esse homem que envelhece duro, rubro, crepuscular, me é todo Azul na lividez da minha vida. Só sua presença já me é conforto, uma espécie de luxo visual; sua luz me inclui na família brasileira que aprendeu com Música Popular.

Vinga em mim esse amor total que, por merecimento dele, direciono todinho a ele. Regras da gratidão. Tenho adoração pela irmã dele: Maria Bethânia. Sinto falta das contas no pescoço dele. Amo o Recôncavo baiano que traz eles. Uso excertos de suas canções para estimular reflexões antropológicas em meus alunos. E o que busquei de poesia - nasceu da minha vontade de alcançá-lo.

Mergulhado no Cinema Transcendental - devoção da minha audição de aprendiz; perdido em Transa - fascínio e rejeição; lotado de Uns - minha casa mais minha; ciente de Cores e Nomes - o verbo que Djavan nos deu; entregue ao Fina Estampa - o gênio universal que nunca deixou de ser baiano.

Eterno em mim: meu amor incondicional.

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