"Asas que não possuo por muito peso que tenho"
Ana Basbaum/Roberto Mendes
Entre o vermelho que penso e o meu coração azul no peso que sou - me obrigando a dizer sim. Essa noite de receios que tento apagar com músicas mas meus ouvidos são só palavras para além do sublime do violão que bate. Viajo pra dentro desta fuga, imagem. A mulher presente. O sorriso que canta na voz que sente a dor que me comunga. Meus pés saem do chão através do que ouço e vejo a minha falta de asas. O meu lugar é o não lugar que ocupo com palavras e música. Eu estou nos olhos dela. Um segredo me guia àquele silêncio. Eu nos olhos dela num instante de paz. Ela - amazonas da inspiração de um país que já não pertenço, fui expulso por inabilidade e incompetência. Ela - me redimi do pecado da não pertença. Choro nos olhos dela murmurando palavras quando ela canta. Eu - uma criança solta ao vento daquela inspiração.
A voz corta o ar e o negrume do céu. Estar à noite à porta da entrada da alma da artista. Guia e silêncio. Meu medo por dentro dos olhos dela. O peso de não saber existir. Essa sofreguidão que não cria nem transgride. Outro mundo dos olhos dela acima do palco. Um instante com asas.
Incidência de luz sobre meu corpo cansado naquele canto pra subir. Não quero espelho, quero por mim a imagem da cantora. Séria beleza dos lugares mais profundos: não me sei chegar ali e busco ardendo inutilmente. Essa noite começa para não terminar e a voz agora está no cantor.
Ela volta só com os olhos para me intimidar e impelir a outras fugas. Ponho poemas no bico dos pássaros que dizem e voam por mim. Passarinhos quase águias de tão reverentes. Fujo em desbragado medo, na ânsia que compõe e modifica. Fujo levando segredos e fazendo encanteria. Ela volta na voz cantando pra mim. Cenas do meu desbunde existencial alimentado em flâmulas de um canto que brota dos mistérios de Deus.
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