sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O homem


Nunca saberia deixá-lo para fora do visível. Nem o desacataria a favor do esquecimento. Ele era a luz matutina que brotava com a brisa numa cidade litorânea qualquer. Sua boca era fruto da universalidade e a falta de voz expressão do seu mistério. Ele escrevia delicadezas, tinha medo da dor. Um corpo que dançava com estrelas, cavalos, peixes, mulheres, pássaros e solidão. Altaneiro em sua magreza elegante e viril. Poeta a declamar Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, a me ensinar sobre mim. Uma chegada como bons presságios; morada da rara beleza como em Maria Bethânia; criador como os anônimos escultores africanos. Fazedor das incompletudes deixadas nos sonhos. Água fresca deslizando pelo tórax ao calor baiano. E ainda assim: ausência.

Sua ausência era minha falta de nome. Estar ali no desenho da pedra esperando. Ter o sol menor que a força do desejo e a sede do encontro. Minha falta de nome nesses dias de profunda escuridão ao sol das ruas da Bahia. Trechos de sua fisionomia na memória dos meus olhos. Trechos da alegria que se esboçava em escritos dispersos no papel. A cor o jeito o tempero a verdade da delicadeza no nascedouro poético de um homem e ele era: o homem.

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