sábado, 27 de agosto de 2011

É domingo nas esquinas dos meus caminhos


Para datar, já é domingo no meu pensamento, 28 de agosto de 2011, nas ruas da Cidade da Bahia. Adianto-me ao dia que deverá ter sol sobre a poesia do mar daqui. Talvez seja só isso e para além disso essa imensa vontade de achar. Nessas ruas menos esburacadas que minhas esperanças, mas atoladas de gente indo sem sentido pela falta que nos resta como resignação. É domingo no jeito de estar consigo perdido de solidão. O silêncio que murmura uma espécie de dor;  o tempero de outrora falhando o caldo cultural que nos aludia, crescia, fomentava, brilhava  em símbolos para o mundo.

É domingo nesse universo de mendigos de tantos tipos e pouca sorte. As letras erradas nas paredes acabadas e o tormento dos novos escritores. O olho da serpente instruindo o bote. O miasma medieval de uma cidade contemporânea pelo mundo visitada. O céu de um azul tão estupidamente lindo, confundindo-se com  o verde-azul do mar nesta terra: assolada de pobreza e vergonhas. A fome que desconstrói. A sede que aniquila. A vertigem que aponta doenças, as descrenças, o prefeito mais burro que há.

É domingo nessas esquinas que encontro. Todo dia e ultrapasso. Vejo com sofreguidão e medo o meu caminhar diurno neste domingo que começa já, amanhã de manhã. Faço um filme experimental e sou peça-chave, protagonista entre prostitutas, ambulantes, mendigos, franelinhas, drogados, boêmios, taxistas, cafezinhos, gatunos, michês,travestis, pedintes, velhos, crianças, mulheres, padres, baianas do acarajé; sou-me o meu comando à frente dessa gente que sou eu me encenando.

É domingo no que sempre deve ser. Teatro de portas fechadas; cinema  sem repertório; praias lotadas; música sem audição. E o amor visto só do retrovisor sem bússolas para encontrar. Uma paisagem belíssima à vista do mar mas sem partilha. Domingo das ratazanas com medo do  veneno da gente. Os sons altos do pagode insuportável, o berreiro pegajoso das paulas claudias joelmas... É domingo à espera da Primavera, de mais flores, das Águas de Oxalá, de Setembro, da voz de Gal, das boas novas, de conquistas, de uma carta, de algum sentido mais prazeroso.

Domingo que dói mas impele a  sair recitando poesia pra si pelas ruas e aquecer a imaginação com leituras e viver cada livro e inspiração tendo o olho da águia como controle e obstinação. Avante e acima.

A Bahia ainda há.

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