terça-feira, 30 de novembro de 2010

Arany Santana: negra cidadania


Em 1990, quando eu era um sonhador estudante de história, na Ucsal, conheci de perto, em carne e osso, a voz do mais importante concurso de beleza da Bahia: A noite da beleza negra do Ilê Aiyê, que foi até nós, jovens aspirantes acadêmicos, numa aula de História da Bahia, nos ensinar cidadania negra.


Foi isso. A dona da voz era a bela atriz e professora Arany Santana, diretora fundadora do grupo cultural Ilê Aiyê, que se tornou a marca imprescindível nas noites de gala que elegem a Deusa do Ébano, eleita a cada ano, para comandar os desfiles do mais representativo bloco afro do País. Ali, a poesia do Ilê se avolumou para ser expressa pela verve artística da professora, seduzindo a gente a entender as armadilhas do racismo e a promover, mesmo que por instantes, o contato sagrado com a chamada ética da coexistência.


Virei discípulo da jovem senhora que se tornaria, 14 anos depois, a primeira Secretária da Reparação de Salvador, da Bahia e do Brasil. Uma mulher das letras que possui uma das oratórias mais comoventes nos movimentos sociais baianos; alguém que faz da política meio de expressão e ação a favor da liberdade e do bem estar social do negro, do branco, do índio e dos mestiços.


Nascida na cidade de Amargosa – Bahia, sendo atualmente a Secretária da Sedes na gestão governamental em exercício, Arany Santana é a grande homenageada de hoje, na Câmara dos Vereadores de Salvador, da qual receberá o título de cidadã soteropolitana. A negra cidadã que salvaguarda, em sua trajetória, histórias inestimáveis de conquistas para o povo negro do lugar mais negro desta nação.


Uma filha dos ventos, mãe de Tiganá e Jaguaray Santana, guerreira mulher que me ensinou belas lições sobre convivência e movimento social, uma alma altiva e exemplar que figura nesta cidade como mãe-irmã espiritual de muitos, inclusive minha. Alguém que aprendeu com o tempo a aguçar sua sensibilidade política e fazer avançar as relações interraciais na Cidade da Bahia, ultrapassando as adversidades, e exercitando, de verdade, o respeito pelas diferenças.


Agora, oficialmente, cidadã da sua amada São Salvador da Bahia.
(Publicado no Opinião, do A Tarde, em 30 de novembro de 2010)

3 comentários:

sérgio disse...

marlon,

grande homenagem. grande e devida. bela e intensa como a homenageada.

muito obrigado, cara, por mais essa!

serginho

sérgio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carla Bahia disse...

Pode dizer a ela, que além de você, eu também sou devota, depois de ler um texto tão apaixonante e apaixonado.