sábado, 14 de maio de 2011

Água Viva ( e colibris)

" Escrevo-te toda inteira e sinto um sabor em ser e o sabor-a-ti é abstrato como o instante. É também com o corpo todo que pinto os meus quadros e na tela fixo o incorpóreo, eu corpo a corpo comigo mesma. Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro. Quando vieres a me ler perguntarás porque não me restrinjo à pintura e às minhas exposições, já que escrevo tosco e sem ordem. É que agora sinto necessidade de palavras - e é novo para mim o que escrevo porque minha verdadeira palavra foi até agora intocada. A palavra é a minha quarta dimensão."
Clarice Lispector, Água Viva, p. 10

Incorporeamente:
fluxo inócuo de carinho
resistência musical de adoração perversa.
À frente.
Segue-se o meu tosco no aconchego profundo do meu coração:
uma espécie de ninho.
Tambores rufando o inaudível,
palavras gastas,
mesmas formas,
constância da saudade,
os olhos-criança,
um aquele corpo,
inteiro,
pulsão,
suores,
marulho amplificado, 
areia e sol,
vastidão desamorosa,
compilação confusa,
eterno filosófico,
graça,
menino, deus,
presença morena,
paladar,
telúrico
Amor.





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