"Vida, pisa devagar
Meu coração cuidado é frágil;
Meu coração é como vidro, como um beijo de novela"
Teve um tempo que eu queria deixar de gostar de Belchior; era forte demais me lembrando um dos tempos mais felizes da minha vida; também, queria ser chique e ouvir Chet Baker e esquecer do todo daquele tempo. Só nunca consegui "desgostar" de Coração Selvagem, me traduzindo inteiro. Há muito voltei a Belchior, sem medo das doces lembranças de anos intensos megulhado na melhor ideia que tenho de amor.
Me preparo para assinalar a "perda" de mais um ano. Tive um pré-aniversário bem "inferno astral" ( até febre já tive), mas estou quase bom para este exercício dificílimo que é viver. E eu quero.
Coração Selvagem é uma letra da alma e universal, atemporal, poderia magnetizar o próprio Baker. E ando cada vez com menos pessoas, ainda mais solidário generoso, resguardado de mim mesmo. E Fé. Aniversário ainda é tudo, mas não como antigamente. Vou fazer um poema para o mar, entregar em suas águas, seguir assistindo a arte - canção de um país que mora em mim. Iemanjá - me guarda sempre do grande mal.
Me devasso e choro e vou. Milito espraiando a poesia de todo dia. Publicizo-me daqui. O medo é menor. Eu sou meu melhor tema - sem biografias, só confissões -, vazio em minhas especulações artísticas: um quadro de Van Gogh e Monet; Jenner Augusto todo azul; Dali e Miró; Tarsila. Vejo O segredo dos seus olhos pela décima segunda vez; dia 21 amanhecerei vendo ele ( décima terceira). Manuel Bandeira me dando rota; Nana me desorientando; saudade de um lugar que nunca vi; viciado em internet - arre!-, de fato sou um homem comum e sozinho. Ouço Mãe e minha Gal me esmaga. Belchior e o Nordeste. O povo lindo da Bahia, do Brasil...
Me devasso para ser esquecido, para atormentar, para meter medo e para eu saber: ao meio de tantas perdas, só fiz de verdade o que a minha liberdade me indicou.
Mais anos, mas eu muito mais leve. Estranho. Não alcanço ninguém, também não sou alcançado; navego o mar de mim, conservo algumas ilusões e planejo ler mais - literatura e poesia - e escrever retintamente uma escrita que me seja terapia, salvação, dor, prezer.
"Meu caminho é cada manhã". Perdão, Werneck, mas só sei errado assim.
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