quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ruínas


Continua a ventar aqui na janela. Chove um pouco, mas nada de frio. Quero me aquecer de frio e esquecimentos. Descendo a ladeira vejo nitidamente a burrice que comanda a minha afetividade. Há dias desço ladeira e ela não acaba; ela não tem fim e assim, aumenta a febre e a minha fome de poesia. Enlarguece o olhar que vê o que eu nunca veria. Um dia, em Salvador, fez 18 graus e naquela noite eu tinha um amor também pra esquecer. Sopra o vento a espalhar uma espécie de medo: é como se antes nunca tivesse existido solidão. Sopra o medo no vento: domínio de tudo aqui.
A chuva aborrece a cidade e molha os pés da gente. Paralisa e prende em casa. Uma casa sem boca sem olhos sem respiração. Embalada pelo adagieto da Sinfonia nº 5 de Mahler. Embalada por Plata Quemada negando o futebol que passa na TV. Um homem se afogando na banheira. O descontrole da emoção que quer mas não deixa... O rol das daninhas repetições.
Minha boca beija a chuva e sorve o vento. Minhas mãos escrevem sem pensar e dançam a valsa que me inscreve ainda na esfera dos vivos.
Tem uma epígrafe esta noite: " É só de mim que ando delirante/ Manhã tão forte que me anoiteceu". A janela bate forte, ah, queria assim a alegria, rir em intensidade. Cada dia em sua epifania de confusão. Tiro a roupa para ser possuído pelo frio, antes de dormir, tantos livros, escritos; arre, como tenho que ser o bom que só seria permitindo alumbramentos.
Nada de frio, nada de salvação. Finda uma quarta-feira de Iansã. A chuva branda, o banho morno, leituras obscuras para o amor que passou. Registro o imprevisto como improviso de uma música que não tocou. Jazz. Esperança aterrada também. Não sei por que o número 11 não me traz sorte.
Vastíssima sedução sem pista - escrevo aqui silêncio para trazer morte - que foi para adiante da felicidade que começava.

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