terça-feira, 25 de agosto de 2009

Simplesmente eu. Clarice Lispector

Beth Goulart como Clarice Lispector


Era domingo. Frio na noite carioca, às 19h., no Centro Cultural Banco do Brasil, 23 de agosto de 2009, na Sala 01, e um público ávido para assistir mais um espetáculo a partir da obra da escritora Clarice Lispector. A empreitada, desta vez, veio da atriz global Beth Goulart, exatamente sublime como Clarice. Patrocinada pelo Banco do Brasil, atuando, adaptando trechos literários e biográficos, dirigindo-se, Beth ,em uma hora, consegue silenciar e comover seus espectadores.
A escritura clariceana compõe-se de dramaticidades. Uma verve absurda pronta para exprimir sensações, percepções, intensidades. Exprimir o inexprimível como queria a autora de Água Viva, e fazer das viagens de seus leitores, a bordo de seus livros, encontros consigo numa reconstrução do demasiado humano. Clarice liberta e sufoca; impinge lamentações e nos desperta para Deus; questiona Deus mas ampliando o mistério da vida; desola, consola, subverte e perdoa; interna reflexão possível em linguagem literária inventiva e humanizadora à busca de algumas identidades. Clarice enfeitiça e nos encoraja a ser. Problematiza a tal vocação em contraponto ao talento; investiga nossas motivações e nos dá acesso ao seu (nosso) dilema perante o ato de escrever.
Tudo isso nos é apresentado pela atuação e pelo recorte feitos por Beth Goulart. Íntegra à elegância feminina de Clarice. Bem longe do caricatural, até a fala de "língua presa" da escritora, a atriz transporta com talento para o palco. Sua adaptação nos torna letárgicos diante do que vai sendo dito e, de alguma forma, inicia muitos na obra belíssima da maior escritora brasileira de todos os tempos. Outro mérito deste espetáculo, talvez o mais válido, é mostrar a mulher frágil, sensível, inteligente e intensa que foi Clarice Lispector. O figurino é outro trunfo do monólogo: a gente vê o requinte e a vaidade cotidiana da fêmea Clarice; trocar de roupa em cena, numa adaptação e ajuste de peças, é uma lição estética para artistas que sobem ao palco e vendem sua imagem.
Beth Goulart está inteira e entregue à sua amada personagem. E Clarice, para dentro dos seus manejos linguísticos, e das esferas terapêuticas de seus escritos, produziu uma literatura universal e brilhante.
E o Rio continua lindo.

2 comentários:

Edu O. disse...

tomara que ela venha e traga tudo isso aqui para a Bahia.

Marlon Marcos disse...

Com certeza, meu querido! Preciso ver aquilo de novo. Precisamos. Torço pra vc assistir.