Woody Allen
Sem máscaras meu rosto me explica o presente. E invalida as vãs tentativas de querer retornar ou de saltar para o futuro. A saudade é o barulho que a vontade de viver o agora faz. É esse tormento de se ter mergulhado no nada do que passou e seguir estagnado. Meu rosto se me revela no que não posso ocultar de mim. E assisto minha vida: uma profunda delicadeza que não gerou flores; um carinho que não pariu amores; instantes entre alegria e vazios...
Hoje me perco em insatisfação, apesar de ter sonhado no cinema. De me ver desenhado em histórias tão longes de mim e de fazer sentido naquilo que vi. Hoje me entreguei ao medo e chorei. Mas ri muito também. Meu peito insatisfeito se enriquece em narrativas que me transportam a lugares que não viverei e sonho, nutro minha vontade, perigosa força que marca um amor em mim e me empurra para sonhos acordados com Paris.
Eu ando em desvelo e meu único sentido é acreditar. Capto alguns ensinamentos - os grandes artistas são o feitiço e o alento que movem minha vida. Me delato para evitar qualquer culpa. Já me acusaram e meu crime maior é tentar melhorar.
Meu rosto, hoje, é o retrato de mim: meu instante mais verdadeiro, minhas marcas em palavras para esta escritura de sangue. Meu tom insatisfeito, minha fuga para adiante, o peso do passado em tudo que não foi efetivado e o arrependimento pelo que não foi feito.
A vida é insatisfatória e nos persegue quando tédio. O que assisti traz a poesia para mim, minha deliciosa forma de salvação. Por ela, continuo em mim a persistir em deixar beleza pelo mundo.
Um comentário:
Lindo, poético. Allen é nada menos que o melhor em entrar de falácias humanas.
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